sexta-feira, 29 de abril de 2011

Começando a trabalhar

Ah, vocês estão achando que eu me lembro da primeira necropsia que fiz? Claro que eu não!! Lembro de pensar no dia: “não posso esquecer, esta é a primeira!”. E fiquei lá, obviamente estava com um dos meus colegas, pois trabalhávamos em dupla na época, mas também não lembro quem era!
Enfim, só para que vocês entendam que o meu trabalho é como outro qualquer, a gente esquece com o passar do tempo. Mas com certeza tem casos que não esquecemos, igualmente como em qualquer trabalho como disse antes, e estes contarei aqui nos próximos posts.
Quero contar para vocês como é trabalhar aqui no Posto Médico legal de Pelotas, em relação a nossa infraestrutura.  Somos 8 auxiliares de perícia (4 mulheres e 4 homens), 6 médicos legistas, 2 estagiários (que fazem o trabalho na secretaria). A escala dos auxiliares conta com 2 por dia, os médicos é 1 por dia e os plantões são de 24 horas. Temos 2 viaturas, uma para fazer trabalho de rua e outra para o recolhimento de cadáveres.
Já fazemos este serviço de recolhimento a uns 4 anos eu acho e lembro que quando começamos eu disse para o meu chefe quando ele disse que era provisório: “se a gente começar vamos fazer para sempre!”. Dito e feito! Nunca mais paramos e nem vamos parar.
Mas falando sinceramente, é uma parte muito legal do nosso trabalho por dois motivos: primeiro porque participar do local e ver como tudo está e o que aconteceu, os elementos são importantes na hora da necropsia e que quando nós não íamos, não tínhamos noção. E segundo porque é muito divertido! (não me entendam mal, to falando de toda a função que envolve o deslocamento dessa grande equipe, não o fato em si.) Temos mais contato com outros colegas como os peritos criminais e fotógrafos, polícia civil e brigada militar.
Nossa sala de necropsia tem 3 mesas, raramente excedemos a necessidade. Temos também uma câmara fria com 4 gavetas, adoro vê-la vazia.
Dormimos no plantão, temos cozinha, quarto e o escritório...armários, beliches, fogão, televisão, tudo que se precisa para passar um plantão mais ou menos confortável.
Houve épocas em que fomos 6, 7 auxiliares, houve épocas em que éramos 4 mulheres para 2 homens...que tínhamos que recolher em uma caminhonete C-20 (eu acho) caindo aos pedaços, que dava medo de andar e inclusive 2 colegas se acidentaram nela porque nem as marchas engatavam. Já houve época de tudo nesses 7 anos, já tivemos em situação mais precária, estamos ainda, mas tem melhorado desde que entramos.

sábado, 9 de abril de 2011

Para assumir um cargo é preciso ter "paciência"...

Tá pensando em fazer um concurso pro IGP? Então vou contar como é essa caminhada.
Já falei que eu fiz o concurso no final de 2002 e final de 2003 fui para Porto Alegre para fazer o curso de formação para depois assumir em Pelotas. Então, em novembro de 2003 me mandei. Achei na internet uma pousada num bairro perto da PUC. Que loucura aquilo...cheguei lá de mala e cuia, meus pais me levaram. O lugar era parecido com um Hostel, mas muito, muito mais maluco! Eu fiquei num quarto com banheiro só pra mim, mas o resto do lugar era quase um acampamento...tinha gente da Bélgica, Estados Unidos, França e tudo mais...a dona dava aula de francês e tinha um cara que parecia um índio americano que era um "faz tudo". Eu e uma colega ficamos lá, a Magda Shama, hoje ela trabalha no IML de Novo Hamburgo.
Nossas aulas eram prédio do Departamento Médigo-Legal (DML) na avenida Ipiranga, ao lado do Palácio da Polícia, no período da tarde, eramos uns trinta em cada turno. No primeiro dia que pisamos lá, dei de cara com uma coisa que tinha em cima da mesa....gigantesca, verde, parecia um balão e pensei: "esse cheiro é desse negócio ai?"...poucos segundos depois me dei conta que era alguém, que foi alguém...e o cheiro forte era disso sim! "Pô, que azar...ah, é a recém o primeiro dia, sem desespero..."- pensei.
Nesse momento vi que uns dois colegas sairam correndo...sai atrás pra ver o que era...eles foram catá um outro colega meu que tinha saído em disparada pela rua, apavorado!! Ai, coitado...mas tive que rir...!
E os auxiliares de perícia que eram nossos professores? Eles abriam a câmara fria e escolhiam um para entrar com eles lá dentroooo!! Para vocês terem uma ideia, quando ela era aberta tu sentia o cheiro a umas 2 quadras! Imagina lá dentro...tu fica com o cheiro entranhado uns 3 dias! Eu me escondia!
Como víamos os outros colegas combinando de sair de noite e morávamos muito longe, resolvemos nos juntar a eles e ir morar no alojamento, no prédio da Brigada Militar, perto do Shopping Praia de Belas. Beliches, mosquitos, banheiro esquisito, sem armário, uma televisãozinha e o meu violão. Todas as mulheres juntas em um e os homens, em outro. Mas pelo menos começamos a nos divertir!! De manhã eu ia caminhando até o centrão, comprava frutas e tal. Depois da aula voltávamos para o alojamento por volta das 19h, primeira coisa: BANHO! Ah e detalhe: era tudo free! (muito importante em épocas difíceis).
Lembrando que ganhavamos uma bolsa de aproximadamente duzentos reais, então "magina"!
O DML de POA é muiiittooo movimentado! Tu não pára! Exaustivo...o que me fez aguentar era porque eu sabia que ia trabalhar em Pelotas, se não não sei se eu teria aguentado o tranco...muito forte.
E assim passei 4 meses...me lembro quando avisaram que a gente podia ir embora..nossa, sai num desespero (não só eu né, todos!) colocamos as tralhas no carro da irmã dessa minha colega e se mandamos para a rodoviária!
Isso foi em fevereiro de 2004. Dia 24 de maio me apresentei pro meu chefe em Pelotas e começei minha caminhada!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

No começo...

Dia comum. Chego no cursinho pré-vestibular que fazia na época, meu primo me olha e diz: "abriu um concurso ai, acho que é legal...é no IML, tenho um amigo que trabalha lá...cai o que estamos estudando...e ai, topas?" ...Pensei um segundo e disse:
- Claro, por que não!
A prova foi num dia muito quente, sufocante, em Porto Alegre. Terminei a prova e tive que fica esperando pra sair com a prova...meu primeiro concurso, queria uma recordação! Fiquei esperando horas no sol escaldante o resto dos candidatos...foi uma indiada completa.
Depois disso minha vida continuou normalmente, nao corrigi a prova e meio que esqueci que tinha feito o concurso. Um dia meu primo me liga:
- E ai! Passamos!
- Onde? O que houve? - Pergunto eu.
- No concurso, tche, não lembras?
- Ah, fala sério...então ta!
Depois disso decorreram todos aquelas fases como teste psicotécnico, médico, etc...
O concurso foi final de 2002 e fomos pra POA fazer o curso de formação só final de 2003. Nesse ano passei no vestibular pra Odontologia na UFPel (Federal de Pelotas/RS) e Direito na FURG (Federal de Rio Grande/RS) - depois resolvi mudar de vida e fui fazer Odontologia e trabalhar em Pelotas.
Mas, enfim, vocês não imaginam o que é ver um cadaver pela primeira vez...é muito bizarro!! Eu ficava lá, de canto, só obsevando e pensando: "what a hell am I doing here??", "onde é a saída, porra!". Passei mais de uma semana sem conseguir comer arroz....não me pergunta por quê!
Como o ser humano se acostuma às condições mais adversas, eu também me acostumei com aquilo TUDO.
Quando tomei posse e fui trabalhar em Pelotas as coisas foram melhorando, melhorando ao ponto de hoje eu querer ser odontolegista! Me apaixonei pela ciência forense e espero fazer todos vocês sentirem o mesmo.